28 junho 2010

E agora?

Não, não gosto de dizer adeus nem de ver o fim de nada, sobretudo se não lhe vi o princípio. Prefiro dizer até um dia destes, mesmo que esse dia demore anos. Ou então, afastar-me sem uma palavra, e deixar no ar o mistério de não saber quando, como e porque é que nos voltaremos a encontrar. Assim não sou eu que ponho fim às coisas, mas as coisas que um dia acabarão ou não por si.

Os finais são horríveis. Fica o ar vazio, deixamos de ver ao longe, de repente apagam-se as luzes e a vida fecha-se aos nossos olhos. Depois do fim, vem a pergunta fatal; e agora? Dá vontade de ir à bruxa para ter uma ideia, mas resiste-se estoicamente, até porque as fadas também se enganam. Aproveita-se o tempo para telefonar aos velhos amigos, arrumar gavetas e deitar papéis fora, limpar a memória e deixar o coração de molho, em convalescença a carregar baterias. Mas o pior são as despedidas. É sempre horrível dizer adeus, mesmo que seja só até logo à noite.

Quando gostamos de alguém, apetece-nos ser mosca para ficar a gravitar incognitamente à volta dessa pessoa, ouvir a sua respiração, rirmos com o seu riso e penarmos com as suas dúvidas. Sentimos a vocação falhada de anjo da guarda que não está a cumprir o horário.

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